Capítulo 86

- Eu falo. – Ele falava baixo e calmo. – Porque foi isso que houve.

- Você é um moleque e não merece o amor dela, uma mulher como minha filha é feita pra um homem de verdade.

- Claro ! Para traí-lo.

- Eu só não te dou a surra que você não levou quando criança, garoto, em respeito aos seus pais, que eu gostei muito.

- O senhor não faria isso ... Eu sei que nunca gostou de mim mesmo.

- Nunca mesmo, até que agora estava me esforçando, mas depois disso ...

- Quer saber? Eu estou me lixando se o senhor gosta ou não de mim, agora não sou mais nada seu.

- Só pai do meu neto, infelizmente !

- Infelizmente, mesmo ! – Ele saiu e suas últimas palavras, ficaram no meu ouvido, chorava enquanto meu pai me abraçava de uma forma intensa.

- Vamos embora amanhã cedo, Daniela.

- Vamos ?

- Claro, não vamos ficar mais aqui com ele. Arrume suas coisas e as de Pedro. – Ele beijou minha testa e se foi.

Arrumei minhas coisas com dor no coração, não estava acreditando que uma viajem que tinha tudo pra ser feliz e alegre, em pleno ano novo, a minha vida tinha começado com o pé esquerdo e estava tudo novo mesmo, mas para pior ... Bem pior !

Fomos embora, me despedi dos pais e da irmã de Luan, nem se quer eu o vi, acho que só fez questão mesmo de se despedir de Pedro. Fui o caminho todo chorando e no avião não foi diferente, meu pai e Sarah não falavam nada e as crianças, felizmente, estavam entretidas.

- Se quiser eu fico aqui com você, Dani. – Sarah falava pela terceira vez e eu negava novamente. 
Já tínhamos chegado na minha casa.

- Obrigada, mas não precisa.

- Tudo bem, então. Qualquer coisa é só ligar. – Ela me abraçou.

- É claro que ela sabe, que pode contar conosco! – Sorri amarelo, para meu pai.

Pedro brincou a tarde toda, estava elétrico, para  a minha infelicidade, queria poder chorar e na frente do meu filho não seria bom. Esperei que dormisse, o que demorou bastante, para poder fazer aquilo, logo depois comi, não sabia onde afundar as mágoas.

Acordei no outro dia, com a campainha tocando, Pedro dormia ao meu lado.

- Laura ? – Estranhei ela ali.

- Estava dormindo ? – Perguntou, enquanto entrava.

- Estava ... Por que ?

- Já são 13:00hrs.

- Demorei pra dormir ontem e Pedro também.

- Hum ... – Ela se sentou e eu ao seu lado. – Agora me diz o que aconteceu com você e o Luan, no Caribe?

- Quem te contou ? – Me assustei.

- O Rober ... Luan ligou para ele, estava muito triste. – Suspirei.

- O traste do Caio me agarrou em uma balada lá e o Luan chegou bem na hora...

- O Caio ?

-É ! Nem sei como nos encontramos lá, eu estava bêbada e ele se passou pelo Luan.

- Você ? Bêbada, amiga ?

- O que é ? Eu também sou humana e erro, não sou perfeita como vocês pensam.

- Desculpa, eu só me assustei, você não é disso.

- Eu só queria me divertir um pouco, por nunca ter feito isso antes .... Se não fosse aquele traste...

- E agora?

- Eu estou me perguntando isso desde ontem, o Luan disse que não quer mais, mesmo sabendo que eu não tive culpa, está bravo porque mandou eu parar de beber.

- Ele também deve ter se assustado, com você fazendo essas coisas.

- Esse é o problema, eu NÃO sou perfeita, nunca foi e nem vou ser. O Luan está pensando que se casou com uma boneca, mas não ... Ele também não é nem um pouco perfeito, custa ele me entender? Sei que errei, mas nunca mais eu faço isso, que droga ! – Eu desabei ali, as lágrimas caiam e falava o que meu coração sentia.

Laura me abraçou com ternura, conversamos a tarde inteira e eu chorei, claro. 
Quando Pedro acordou, fomos preparar o almoço, já que ninguém iria trabalhar, estavam pensando que eu ainda estava no Caribe. Laura tentava me distrair, consegui sorrir, com meu filho e minha amiga ali do meu lado, depois comemos doce vendo tv, graças a eles o meu dia não passou tão mal assim.

Os dias se passaram daquele jeito, quando deu o dia do Luan voltar eu estava tensa, não sabia o que conversaríamos.

- Se acalma e não fala e nem faz besteira, se ele não quiser mais, ninguém pode obrigá-lo a nada. – Laura me falava, Luan já estava a caminho dali.

- Eu sei ... Meu pai disse a mesma coisa. Mas eu o amo !

- Eu sei que sim, mas você vai ter que superar. Eu também amava o Caio e olha agora ... – Ela sorriu e eu também, tinha razão.

Eu não choraria mais e se ele quisesse se separar mesmo, eu seria madura o suficiente para entender, não queria, mas iria entender. Ele sabia que eu não tinha culpa de nada, mas teria que fazer sua escolha. 
Laura me deu um beijo e foi para o seu apartamento, levando Pedro.

- Oi ... – Eu disse, assim que abri a porta. Luan entrou e foi direto para o quarto, segui atrás.

- Estou indo para Londrina. – Ele falava, enquanto pegava novas peças de roupa, em sua parte do closet.

- Vai ficar lá até quando ? – Eu temia com a resposta.

- Não tenho data pra voltar ... – Foi o que ele disse.

- E ... Nós ?

- Eu não sei, estou confuso ! – Parou para me olhar. – Eu estou me sentindo ... Corno. Não quero me sentir assim toda vez que olhar pra você.