Capítulo 59

- Isso mesmo, puxa pelo nariz e solta pela boca. – A enfermeira dizia. Quando viram que ela já estava bem mas calma, começaram a se preparar para o parto. – Vamos lá, sua anestesia já fez efeito?

- Não, eu estou com medo e se não fizer? Não tem como dar mais uma dose?

- Fique calma, vai fazer. É só você relaxar. – Mais uma vez ela respirou fundo.

- Está fazendo agora? Você sente minha mão? – Ela encostou em sua perna, atrás do pano que não nos deixava ver.

- Não.

- Ótimo! – Sorriu e voltou a fazer o que fazia. Fiquei alisando aos cabelos dela e sorrindo, beijei seu rosto e sussurrei em seu ouvido que daria tudo certo, perguntei até se já tinha idéias para o nome do bebê e ela disse que tinha, mas só de menina. Me olhou estranho uma hora.

- O que foi, amor? – Perguntei baixo, ainda alisava seus cabelos.

- Estou sentindo...A mão dela na minha barriga. – Fez careta, me fazendo ri. Estava aparentemente calma e aquela sala também, em silêncio.

Depois de uma hora ali dentro, ainda fazia o possível para distrair Daniela, pelo visto estava dando certo, não sei como eu mesmo me mantive calmo.

- Olha aqui, papais. É um meninão! – O medico levantou o bebê do nada, não estava esperando. Sorri e fui até ele, que o enrolou em um pano e me deu.

Peguei meio sem jeito e fui até Daniela que sorria e chorava, ao mesmo tempo. Beijamos sua cabecinha, ainda suja, emocionados por aquele momento único e especial na nossa vida.

Mas logo tiveram que tirar ele do colo de Daniela, senti seus olhos pesados.

- Luan, você vai ter que se retirar.

- O que houve, doutor?

- Daniela, está perdendo muito sangue. – Começou uma correria na sala, do nada.

- Mas o que houve? Estava tudo tão bem. – Eu já estava nervoso e eles pareciam não me ouvir.

- O senhor não pode ficar, por favor. – A enfermeira pegava em meu braço.

Saí daquela sala desnorteado, tirei aquela roupa rápido e voltei para sala de espera, minha mãe e Bruna, estavam lá também.

- O que houve, Luan? Alguma coisa com o bebê ? – Eles me perguntavam e eu apenas neguei com a cabeça, me sentando. – Então?

- O bebê nasceu, é um menino.

- Sério? Que ótimo!

- Mas a Dani...Está mal, perdendo sangue.

- Vai ficar tudo bem, meu filho. Vamos rezar. – Minha mãe pegou em minha mão.

Me levantei e sequei minhas lágrimas, que já caiam, com a outra mão. Fizemos uma roda e rezamos, rezamos muito para que a minha esposa saísse dessa bem, de volta para nós.

- Liga pra Laura, irmão. – Minha irmã colocou sua mão sobre meu ombro, assenti e peguei meu celular do bolso.

Disquei os números do Rober e falei com eles, mandei pegarem meu jatinho que estava em Londrina.

Ficamos horas ali, na angústia, eles chegaram e se juntaram a nós nas orações, Laura chorava sem parar, o que me fazia chorar mais ainda.

Voltamos nossa atenção para o médico, quando o vimos entrar.

- Ela está bem, se acalmem.

- Que alívio! – Me sentei com tudo.

- Mas já aviso, que perdeu muito sangue e precisará de transfusão.

- Eu dôo, o meu sangue é compatível com o dela. – Laura nos surpreendeu.

- Ótimo! Não temos o sangue dela, aqui no banco do hospital. Você tem algum problema?

- Nenhum, eu posso doar.

- Vamos fazer um exame mesmo assim, pode ser agora?

- Pode, pode sim.

- Antes, vou falar para vocês. Ela está bem e o bebê também, só que...

- Só que? – Voltei ao nervosismo.

- Tivemos que retirar seu útero, fizemos de tudo para isso não acontecer, já que é jovem e ainda podia ter muitos filhos. Mas não teve jeito, ela poderia morrer se não tirássemos. – Respirei fundo digerindo aquilo, não poderíamos mais fazer filhos, mas logo pensei em nosso filho, que ainda nem tinha nome.

- Está tudo bem, doutor. Eu posso vê-la?

- Pode. Venham comigo. – Ele chamou Laura também, nos despedimos de todos e minha mãe me abraçou com força, estava precisando daquilo e parecia que tinha lido meus pensamentos. Sussurrou em meu ouvido um “Vai dá tudo certo” baixinho e eu assenti, enquanto beijava seu rosto.